Por Fabrício Queiroz
Florestas conservadas são sinônimo de biodiversidade preservada, mais carbono absorvido e menos aquecimento no planeta. Além disso, as matas também são territórios importantes para muitas comunidades e povos tradicionais, contribuindo tanto para a sua cultura quanto para a geração de renda. Na Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, no oeste do Pará, é o manejo responsável e sustentável dos recursos naturais que garante a conservação dessa parte da Amazônia.
No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta quinta-feira, 5, o Pará Terra Boa mostra que conhecimento tradicional, técnica, inovação e respeito aos ciclos da natureza são essenciais para aproveitar da melhor forma os recursos florestais, movimentar as economias locais e manter um ambiente saudável para o presente e o futuro.
Na Flona do Tapajós, os guardiões da floresta são 312 famílias ribeirinhas que atuam no manejo sustentável de madeira há 20 anos. A criação da unidade de conservação na década de 1970 previa a proteção integral da área de mais de 530 mil hectares, o que expulsaria da região até mesmoaqueles que viviam na região antes disso. É o caso da família de Arimar Feitosa Rodrigues, de 53 anos, dois anos a mais que a Flona.
“Tinha as comunidades que já moravam, meus avós já moravam lá, eu sou mais velho que a Flona, e todos foram ameaçados de serem retiradas. Houve resistência porque não foi feita consulta. Depois dos anos 80, começou uma articulação com o apoio do movimento eclesial de base que deu um grande impulso para que essas lideranças não saíssem”, conta o morador.
A mobilização da comunidade conseguiu fazer o governo mudar a lei e permitir que as populações tradicionais tivessem direito de permanecer e utilizar os recursos naturais para a subsistência. Mas isso não era suficiente para os ribeirinhos que queriam poder comercializar parte dos recursos para garantir o desenvolvimento social e econômico local. Foi somente em 2004 que os moradores conseguiram o contrato de direito de uso para manejar a floresta.
“Nós temos dois planos de manejo aprovados. O primeiro tem quase 90 mil hectares com ciclo de 35 anos e outra área de cerca de 30 mil hectares também com ciclo de 35 anos, que totaliza quase 120 mil hectares. Isso quer dizer que se uma árvore é retirada hoje em um determinado ponto, essa área só pode ser explorada de novo depois de 35 anos”, explica Arimar, que coordena a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona).
Renda e proteção
O trabalho da cooperativa se tornou fundamental para a renda das famílias envolvidas, assim como ajudou a aumentar a proteção do território pressionado pelo avanço de invasões e do agronegócio na BR-163. Para isso, o plano de manejo inclui também o monitoramento da floresta com carros e drones e medidas para evitar o uso desordenado dos recursos ou o desmatamento.
Já a produção da cooperativa tem o diferencial de possuir certificação FSC, que serve para identificar a origem responsável das toras extraídas. Essa e outras conquistas foram possíveis graças ao trabalho coletivo e também a parceria mantida com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e instituições de ensino e pesquisa. Foi uma dessas articulações que permitiu a Coomflona dar um o além.
Um trabalho de conclusão de curso de um ex-aluno da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) estudou a viabilidade econômica do aproveitamento de resíduos para produção de móveis. Os resultados animaram a comunidade que fundou em 2017 a movelaria Anambé para utilizar a madeira e resíduos não aproveitados pela indústria para a fabricação de móveis com design rústico.

O projeto ainda busca maior reconhecimento, mas Arimar acredita que o potencial é grande, já que a cooperativa tem a seu favor o fato de ser uma das poucas a trabalhar com madeira certificada na região. Para ele, a parceria com o Sebrae também deve ajudar a cooperativa a se projetar no mercado.
“As empresas daqui ainda não olham muito para essa questão da certificação de origem, mas imagino que faz parte do processo de transformação de mentalidade e dentro do médio prazo podemos ter um mercado mais exigente. Continuamos trabalhando nessa linha e temos hoje uma estrutura de primeira linha com capacidade para produzir de um cabo de colher a um armário”, afirma Arimar Rodrigues, confiante com um futuro de uso consciente da floresta.
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